Especialista explica o lastro do Bitcoin, Dólar e Real
O Bitcoin carrega o estigma de ser um dinheiro virtual e sem lastro. A questão do lastro é uma das principais dificuldades que as pessoas têm para entender o protocolo e os críticos sempre recorrem a esse argumento. Mas sim, o Bitcoin tem lastro Venha entender qual o lastro do Bitcoin.
Recentemente essa questão do lastro voltou à tona, depois de uma entrevista do Ciro Gomes ao Flow Podcast, quando o político cita a falta de lastro do bitcoin.
“Olha, eu não sei se eu sou conservador demais — e eu admiro essa tentativa, mas uma moeda sem lastro e sem uma autoridade pública por trás dela, não sei se um dia desse vai dar problema”, disse o político.
Então, vamos entender melhor o que é esse tal de lastro?
O que é lastro
Lastro é a garantia implícita que está por trás de um determinado ativo.
O lastro do ouro são as propriedades físico-químicas únicas dele, que o tornam escasso e durável. Ouro não estraga, não mofa, não se decompõe; é difícil destruir o ouro. O lastro do dólar é o sistema político, econômico e militar dos Estados Unidos que conferem uma impressão de alta confiabilidade na moeda.
No passado, bem no passado mesmo, o dinheiro foi lastreado em ouro, posteriormente ao dólar. Mas hoje qual o lastro físico do Real ou do Dólar? Essas moedas não possuíam lastro físico, funcionam a partir de uma convenção social, que atribui valor a um pedaço de papel garantido pela confiança das pessoas nesse sistema.
Hoje, somando todos os saldos bancários dos brasileiros, juntamente com as suas aplicações financeiras, o total seria muito superior ao total de dinheiro impresso em circulação e mais superior ainda as reservas em ouro e dólar, o que muita gente acredita ser o famoso lastro.
Se todos os brasileiros resolverem sacar todos os “seus dinheiros” do banco, não teria dinheiro físico suficiente para pagar todo mundo, mesmo se fossem resgatados somente os saldos em conta corrente, sem contar as aplicações financeiras. Os bancos teriam dinheiro para pagar menos de 3% da população. Isso acontece devido ao multiplicador da base monetária.
E se você está pensando que pagar todo mundo seria um problema fácil de resolver, basta imprimir papel moeda, essa é exatamente uma das razões pelo qual o Bitcoin surgiu, como uma crítica ao sistema financeiro tradicional. Imprimir dinheiro indiscriminadamente faz o dinheiro perder valor ao longo do tempo, devido ao efeito inflacionário. No limite vai virar pó, literalmente, servindo apenas para fazer fogo.
No caso do Bitcoin, se fosse um ativo físico, todas as pessoas que têm bitcoin poderiam segurar ele na mão ao mesmo tempo, muito diferente do real ou do dólar. O bitcoin não é um ativo físico, é um ativo digital, porém muito menos virtual do que o real e o dólar.
Como diz o historiador Yuval Noah Harari, o dinheiro só funciona porque acreditamos nele — a nossa fé no dinheiro, nos bancos, sistema financeiro e nos países, faz com que acreditamos que um pedaço de papel tenha um valor. Valores diferentes a depender do que foi impresso nele, faz com que acreditamos no dinheiro virtual que enxergamos no nosso extrato bancário e na telinha do nosso bankline.
“A confiança é a matéria-prima a partir da qual são cunhados todos os tipos de dinheiro”; (Yuval Noah Harari).
Credibilidade e confiança é o que atribui poder ao dinheiro ou a qualquer outro ativo. O lastro é justamente a credibilidade que está por trás de um determinado ativo.
Assim como o ouro possui um lastro natural por suas características físico-químicas, e o dólar um lastro baseado na confiança do sistema político, econômico e militar dos EUA, o Bitcoin possui um lastro matemático com características criptográficas.
“Nós preferimos colocar nosso dinheiro e fé na matemática, pois ela é livre de política e erro humano”. (Tyler Winklevoss — Investidor milionário, empreendedor e famoso por ter tido a ideia original do Facebook).
Lastro do Bitcoin
Um lastro baseado na segurança de uma rede blockchain gigantesca, composto por milhares de computadores ao redor do mundo que tornam a rede mais segura a cada dia, pois quanto mais blocos são adicionados, maior é a segurança dessa rede.
Isso somente é possível devido a descentralização, característica marcante em diversas criptomoedas. No caso do bitcoin, cerca de 40 mil computadores verificam, independentemente, cada transação efetuada.
Se um hacker tentar mudar alguma informação na blockchain do bitcoin, ele não conseguirá, pois teria que invadir milhares de computadores ao redor do mundo ao mesmo tempo, com uma força computacional maior que esses computadores. Precisaria ser mais rápido que eles e fazer pelo menos metade dessas máquinas concordarem com a sua validação.
Após 11 anos de sua implementação, rodando em um sistema 24 horas, 7 dias por semana, o Bitcoin nunca foi hackeado e já transacionou bilhões de dólares.
Segurança traz confiança e credibilidade, resultando no valor de um ativo. Esse conceito precisa estar claro para entender o lastro do Bitcoin.
Sobre a autora
Marina Luz, CFP®, é economista, com experiência de 8 anos no mercado financeiro e trabalhou no Itaú BBA. É especialista em finanças pessoais e mantém o canal no Youtube Mais Dinheiros, sobre educação financeira e investimentos
Marina Luz