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China, criptomoedas e tecnologia blockchain

Publicado em 11/07/2021 às 17:35

Autor discorre sobre as investidas do país contra bitcoin, mineradores, e sua dianteira na tecnologia blockchain



A animosidade da China perante o mercado de criptomoedas, especialmente o do Bitcoin, já não é mais novidade para a comunidade cripto. O comportamento do país decorre de uma filosofia de governo fundamentada no alto intervencionismo econômico. As criptomoedas, incontroláveis, anárquicas e descentralizadas, são encaradas como um antagonista direto ao Estado Chinês e ao Partido Comunista da China.

Contudo, isso não quer dizer que a nação chinesa pretende ignorar e/ou banir a tecnologia por trás das criptomoedas, a blockchain; muito pelo contrário. A seguir, faremos uma análise geral do panorama histórico da China com relação ao mercado de criptomoedas, e veremos como o país tem tomado a dianteira no que se refere ao desenvolvimento e pesquisa em tecnologia blockchain.



A história das criptomoedas na China

A relação da China com as criptomoedas evoluiu gradativamente, com regulamentações cada vez mais pesadas sendo impostas na medida em que as criptos — especialmente o Bitcoin — ganhavam mais destaque. Até pouco tempo, a China era o país com o maior volume diário de transações, e detinha mais de 70% das instalações de mineração de Bitcoin. Uma grande parte dos indivíduos que ficaram milionários da noite para o dia, no Bull Market de 2017, era composta por chineses.

Contudo, em 2021, a China resolveu se posicionar mais veementemente, proibindo qualquer atividade de mineração de criptomoedas por PoW — o que afetou diretamente as redes Bitcoin e Ethereum. A preocupação principal, além da intenção clara de repressão à modalidade, está no alto consumo energético necessário para que a mineração aconteça.

De fato, a rede bitcoin consome, hoje, mais energia elétrica que toda a Argentina. Se colocado no ranking junto a todos os países, o Bitcoin ocupa a 27ª posição no consumo elétrico mundial. O crescimento da demanda ao longo de 2020 e 2021 veio intensificar ainda mais o aumento do gasto energético, que acabou motivando a ação do governo chinês.

Mesmo antes da era das criptomoedas, a China já tinha um histórico de forte regulamentação de ativos digitais. Em 2007, o governo derrubou a moeda Q Coin, criada pela provedora de internet e telefonia Tencent como parte de um programa de recompensas, e que já era usado por mais de 221 milhões de pessoas. Em 2009, o governo baniu as trocas de produtos virtuais por dinheiro, atingindo um mercado secundário crescente de contas de jogos como World of Warcraft e Runescapes.



Os primeiros anos

Os primeiros anos do Bitcoin na China foram, como na maioria dos países, praticamente livres de regulamentação, visto que a fase de “aguardar para ver” duraria até cerca de 2016. Em 2013, quando o Bitcoin ganhou muita força e aceitação de empresas e instituições no país, a China tomou sua primeira posição, proibindo bancos e corretoras tradicionais nacionais de operarem e investirem com Bitcoin. Isso levou à remoção da moeda como forma de pagamento em plataformas de comércio, como Baidu e Taobao.

Nos anos seguintes, apesar dos entraves do uso da moeda em transações comerciais, ainda era permitida a negociação entre indivíduos. Corretoras de criptomoedas, como BTCC e Huobi, se multiplicaram na China, tornando-se líderes mundiais em volume de negociação. Em 2015, 80% das trocas mundiais de BTC ocorriam perante o Yuan, algo que hoje não passa de 1%.

O panorama de infraestrutura nacional também se mostrou altamente atrativo à instalação das fazendas de mineração, mantendo o país na primeira posição mundial até 2021. Em setembro de 2017, ICOs foram totalmente banidas pelo governo chinês e todas as cripto-corretoras foram proibidas de negociar criptomoedas por moeda fiduciária.

Em 2018, esse movimento de restrição das criptomoedas foi aprofundado com a proibição adicional de transações cripto-cripto, entre indivíduos e/ou instituições, e mercados de balcão. Além disso, foi bloqueado o acesso a sites de corretoras internacionais e ICOs para habitantes chineses, por meio do Grande Firewall. 



Esses eventos levaram à maior queda na cotação do Bitcoin ao longo dos dois anos seguintes, uma baixa de 75% em relação à máxima histórica até então, em dezembro de 2017. O evento de Bear Market só voltaria a se repetir em 2021, com o já mencionado banimento das mineradoras em território chinês.


A China e a tecnologia Blockchain

Apesar das restrições e banimentos a fim de controlar e subjugar o mercado de criptomoedas, o governo chinês não deixou de reconhecer a importância estratégica da tecnologia por trás de tudo isso — a blockchain. Declarações públicas foram feitas em 2019 a respeito da importância nacional que a tecnologia representa para o país. O presidente Xi Jinping relatou que o desenvolvimento da tecnologia blockchain é uma prioridade chinesa.

De fato, hoje, a China detém o maior volume mundial de registro de patentes em blockchain. Sua liderança no mercado de criptos, entre os anos de 2010 e 2017, permitiu que alcançasse um grande nível de experimentação e qualificação da mão-de-obra especializada em desenvolvimento de blockchain e criptomoedas. Apesar dos subsequentes banimentos e restrições, a maior parte do conhecimento técnico permanece no país até hoje.

O maior exemplo prático disso é a DCEP, a moeda digital chinesa. Apesar de utilizar blockchain para funcionar, o conceito se baseia na centralização de uma moeda eletrônica com lastro no yuan nacional — conceito que já vem sendo testado por vários países.

Experimentações vêm ocorrendo em distribuições na loteria de Xangai, e já foram instalados mais de 3 mil caixas eletrônicos em Pequim com a opção de conversão entre o e-CNY (como também é conhecida a moeda digital) e o dinheiro físico.



Conclusão

A ideologia do governo chinês representa um embate direto à proposta de disrupção trazida pelo movimento das criptomoedas. O Partido Comunista Chinês, que recentemente celebrou seu 100º aniversário, vem solidificando seu controle sobre o Bitcoin, altcoins e as corretoras desde 2017. Contudo, as criptomoedas dão sinais de nova onda de valorização desde junho de 2021. Com a saída das mineradoras da China, muitas delas vêm se instalando em países vizinhos com condições propícias.

Além disso, a repressão tem causado a diminuição de oferta perante a demanda de Bitcoin, o que torna a mineração mais lucrativa e impulsiona o mercado. Muitos acreditam, inclusive, que o cenário atual, no qual nem mesmo a maior economia mundial consegue pôr um fim ao avanço do Bitcoin, provará a proposta original de disrupção, descentralização e independência econômica trazida pelas criptomoedas.

Sobre o autor
Fares Alkudmani é formado em Administração pela Universidade Tishreen, na Síria, com MBA pela Edinburgh Business School, da Escócia. Naturalizado Brasileiro. É fundador da empresa Growth.Lat e do projeto Growth Token.

 
Fares Alkudmani 

Fonte: https://portaldobitcoin.uol.com.br

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