O economista Nassim Taleb levou suas críticas ao Bitcoin (BTC) para um novo artigo, divulgado na segunda-feira (21). A obra reforça o tom crítico de Taleb, mas foi duramente rechaçada por entusiastas do BTC e especialistas do mercado.
Intitulado Bitcoin, Moedas e Bolhas, em tradução livre, o artigo fala primordialmente sobre o aspecto financeiro do BTC. Contudo, Taleb ressalta que a criptomoeda também falha como tecnologia, chegando a classificar a blockchain como “inútil”.
“O argumento padrão usual é: ‘Bitcoin tem suas falhas, mas estamos recebendo uma grande tecnologia, faremos maravilhas com a blockchain’. Não, não há evidências de que estamos recebendo uma ótima tecnologia – a menos que ‘ótima tecnologia’ não signifique útil”, diz o artigo em sua conclusão.
Adicionalmente, o economista reafirma que o BTC não é uma reserva de valor confiável, tampouco serve como proteção contra crises e inflação. Tais críticas foram expostas por Taleb numa discussão recente entre ele e o economista brasileiro Fernando Ulrich.
Naturalmente, o artigo foi recheado de críticas por entusiastas do BTC. Alguns, como o podcaster e jornalista Peter McCormack, acusaram o artigo de possuir um viés de confirmação. Em outras palavras, Taleb utilizou apenas os dados que confirmam a sua nova visão, ignorando o contraditório. Assim como ocorreu com Ulrich, a resposta do economista foi relativamente agressiva.
Já Daniel Brain, engenheiro do PayPal, optou por uma abordagem diferente. Ao invés de confrontar Taleb, Brain escreveu um extenso artigo com uma análise da publicação de Taleb. Em primeiro lugar, Brain mencionou a “extinção dos mineradores”.
Segundo Taleb, a extinção ocorrerá porque o BTC não oferece qualquer rendimento explícito que beneficie o detentor do bitcoin, como dividendos, por exemplo. Logo, o valor da criptomoeda será zero quando a mineração for extinta ou a tecnologia se torna obsoleta. Se o valor futuro do BTC é zero, argumenta Taleb, então o valor deve ser zero agora.
Brain contesta este conceito afirmando que Taleb esqueceu de mencionar as taxas de transação, que também são parte do rendimento dos mineradores. Enquanto existirem transações e taxas, os mineradores também existirão.
Além disso, as regras do BTC garantem que sempre haverá um equilíbrio da mineração. Um exemplo é o e mecanismo de ajuste de dificuldade, que ajuda os mineradores a definirem quando a mineração é lucrativa.
Outro contra-argumento ao texto de Taleb veio de Bradley Rettler, professor assistente de Filosofia da Universidade de Wyoming (EUA). Ainda sobre mineração e valor, Rettler argumentou que a visão de Taleb é um ponto geral sobre o valor esperado , não é um argumento contra o Bitcoin.
Por fim, Taleb argumentou que as taxas de transação do BTC são consideravelmente maiores do que outros meios de transferência, inclusive outras criptomoedas. Ao mesmo tempo, a rede é muito mais lenta e com menor capacidade de executar transações por segundo. Logo, seu uso como moeda não poderia ter chances de sucesso.
Rettler afirmou que não é verdade. Até mesmo as transações on-chain são, em média, mais baratas do que as transações bancárias. Tanto Rettler quanto Brain sugeriram que a mera existência da Lightning Network (LN) anula esse ponto. Por sinal, a LN não é citada nenhuma vez no artigo de Taleb.
Luciano Rocha