Bitcoin (BTC) e Ethereum (ETH) esboçam alta após Banco Central dos EUA sugerir um aumento mais moderado nas taxas de juros do país em dezembro
As duas maiores criptomoedas seguem o desempenho das bolsas internacionais nesta quinta-feira, 1º de dezembro, com investidores mais animados com a perspectiva de afrouxamento monetário nos EUA.
O Bitcoin (BTC) sobe 1,3% nas últimas 24 horas, negociado a US$ 17.110,99, segundo dados do CoinGecko. O Ethereum (ETH) avança 1%, para US$ 1.282,16.
Investidores também repercutem a primeira entrevista ao vivo do fundador da FTX, Sam Bankman-Fried, na qual ele negou a intenção de cometer fraudes ou usar fundos de clientes.
No Brasil, o mercado ainda reage à aprovação da Lei de Criptomoedas, que segue para sanção presidencial. A expectativa é que o Banco Central seja a entidade responsável pelos próximos passos, mas a CVM avisou que também quer regular o setor.
Em reais, o Bitcoin opera com estabilidade, cotado a R$ 89.516,75, de acordo com o Índice do Portal do Bitcoin (IPB).
As altcoins mostram desempenho misto nesta quinta, entre elas Binance Coin (-1%), XRP (-0,5%), Dogecoin (2,1%), Cardano (+0,7%), Polygon (+5,4%), Polkadot (-0,1%), Shiba Inu (-0,0%), Solana (+1,4%) e Avalanche (+1%).
Telegram pode criar corretora de criptomoedas
Enquanto o colapso da FTX abala a fé nos players centralizados do setor, o Telegram quer construir alternativas descentralizadas e confiáveis, segundo o Decrypt.
Pavel Durov, fundador e CEO da plataforma de mensagens, anunciou que a empresa pretende criar uma corretora de criptomoedas descentralizada (DEX). Segundo ele, “carteiras sem custódia” e “trocas descentralizadas” permitiriam que milhões de usuários negociassem seus ativos com segurança.
“Dessa forma, podemos corrigir os erros causados pela centralização excessiva, que decepcionou centenas de milhares de usuários de criptomoedas”, disse Durov.
O executivo argumentou que o projeto é viável: o desenvolvimento do Fragment, plataforma descentralizada de leilões do Telegram, “levou apenas 5 semanas e 5 pessoas, inclusive eu”, afirma. Lançado no mês passado, o serviço já arrecadou US$ 50 milhões em tokens Toncoin com a venda de nomes de usuário tokenizados na blockchain.
Bitcoin hoje
Ativos de risco ainda são beneficiados pelos comentários na quarta-feira (30) do presidente do Federal Reserve dos EUA, Jerome Powell, sugerindo que o banco central americano pode optar por um aumento mais moderado da taxa de juros em sua reunião em meados de dezembro.
Apesar da terceira sessão de ganhos para o Bitcoin, a principal criptomoeda teve um novembro negativo.
No mês passado, o ouro foi a aplicação mais rentável, de acordo com ranking elaborado pelo Valor Data. O metal precioso se valorizou 6,64% no período, seguido pelo euro, com alta de 6,08%. O Bitcoin ficou na lanterna das aplicações, com perdas de 16,75% no mês passado.
Em meio ao caos provocado pela FTX em novembro, gestoras de fundos cripto como Grayscale Investments e CoinShares International sofreram saques de US$ 19,6 bilhões em novembro, de acordo com dados da CryptoCompare divulgados pelo Wall Street Journal. O volume corresponde a 14,5% do total de ativos sob gestão, que atingiu o menor nível desde dezembro de 2020.
Dos 20 fundos rastreados pela CryptoCompare, 19 tiveram retorno negativo em novembro. O fundo 21Shares Short BTC, que aposta na queda do Bitcoin, registrou ganho de 18,2%.
Além de amargar perdas em novembro, a maior criptomoeda também foi alvo de críticas do Banco Central Europeu no Twitter. Em artigo publicado na quarta-feira (30) e reproduzido pelo Valor, o diretor-geral da do BCE, Ulrich Bindseil, e o economista Jürgen Schaaf disseram que a “aparente estabilização” dos preços de uma unidade de Bitcoin entre US$ 17 mil e US$ 20 mil após o colapso da FTX é provavelmente “um último suspiro artificialmente induzido antes de uma jornada para a irrelevância”.
FTX – Últimas notícias:
Na primeira de várias audiências do Congresso dos EUA nesta quinta-feira (1) para examinar a implosão da FTX, membros do Comitê de Agricultura do Senado provavelmente vão pedir respostas a Rostin Behnam, presidente da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), sobre se a turbulência poderia ter sido evitada com uma melhor supervisão, de acordo com a Reuters.
Sam Bankman-Fried culpou o colapso da FTX, sua exchange de criptomoedas, a um controle deficiente e perdas de clientes, mas negou que tenha cometido fraude de forma intencional.
“Eu não tentei cometer fraude com ninguém”, afirmou SBF, como é conhecido, no evento DealBook Summit organizado pelo New York Times na quarta-feira (30), em sua primeira entrevista ao vivo desde que o grupo FTX entrou com pedido de recuperação judicial. SBF acrescentou que não teve intenção de usar fundos de clientes.
Filho de dois professores de direito da Universidade de Stanford, Bankman-Fried destacou que seus pais não aprovam os tuítes, cartas e outros comentários feitos por ele desde que a FTX pediu proteção contra credores neste mês. Mas SBF explicou que não vê benefício em ficar sentado “fingindo que o mundo exterior não existe”.
Mas tudo o que o fundador da FTX disse pode e muito ser usado contra ele nos tribunais, de acordo com o New York Times. Algumas das autoridades que investigam o caso disseram que ir para a cadeia – e até mesmo a prisão perpétua – estão no radar para SBF.
Bankman-Fried também afirmou que sua fortuna praticamente evaporou desde a implosão da FTX. Antes bilionário, SBF disse que agora tem apenas um cartão de crédito ativo e cerca de US$ 100 mil em uma conta bancária.
Segregação de ativos
A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, diz que o caso da FTX destaca a necessidade de regular o setor de criptoativos. A Comissão Europeia vai na mesma linha e pediu urgência na aprovação de regras.
Também presente ao evento do NYT, Yellen afirmou que uma das prioridades seria garantir a proteção dos ativos dos clientes e a segregação desses ativos para evitar problemas como os observados com a FTX.
No Brasil, o tema ficou fora do projeto de lei aprovado na terça-feira (29). Em entrevista à Exame, Helena Margarido, advisor na Kodo Assets, afirmou que a ausência da obrigatoriedade de segregação patrimonial torna a lei uma “simples barreira de entrada ao mercado, sem nenhuma contrapartida ao consumidor, que verá menos opções de corretoras surgirem daqui para frente sem necessariamente estar mais protegido pelo simples fato de haver uma regulação vigente”.
Papel da CVM
Em artigo no Valor, Marcelo Trindade, professor da PUC-Rio e ex-presidente da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), diz que regular investimentos em criptomoedas pode ser um equívoco, porque as empresas não se financiam nesses tokens. Além disso, argumenta, a lei aprovada pode “servir apenas para dar foros de legitimidade a ofertas de criptoativos inteiramente desreguladas”.
Em nota, a CVM afirmou que “pode e deve ser o órgão responsável pela regulação dos criptoativos que se enquadrem como valores mobiliários”. A lei votada na terça-feira (29) trouxe em seu artigo 1º uma redação que tira da CVM a responsabilidade de regular quaisquer ativos virtuais, destaca o Valor.
Pelo lado das corretoras, a impressão geral sobre a aprovação do projeto de lei parece positiva. Uma ausência é a Binance, maior corretora cripto do mundo e líder de mercado no Brasil, que preferiu não se pronunciar sobre a aprovação do PL.
Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin (MB), aponta que, para saber o real efeito da lei, é preciso esperar a indicação do regulador pela Presidência e a regulamentação que será criada. “Mas, desde já, a lei organiza o cenário competitivo no Brasil e traz mais segurança para os usuários”, afirmou ao Portal do Bitcoin.
Outros destaques das criptomoedas
O MB listou sua primeira stablecoin pareada ao real, o MBRL. A exchange vai emitir o ativo via MB Tokens de forma interoperável, o que permite a negociação da stablecoin em outras plataformas. Implementada inicialmente na Stellar, rede de blockchain que constrói soluções de acesso financeiro em todos os lugares, o MBRL representa mais um passo na popularização do setor de ativos digitais na América Latina.
O Portal do Bitcoin apurou que a exchange negocia com uma auditoria de grande porte a realização de balanços periódicos no lastro do ativo, de forma similar ao que é feito por outras emissoras de stablecoins.
Os restaurantes Paris 6 Classique e Paris 6 Vaudeville, unidades da rede Paris 6, localizadas em São Paulo, passaram a aceitar Bitcoin como forma de pagamento. O processo é operado pela rede Lightning Network via solução Foxbit Pay.
O fundador da GAS Consultoria, Glaidson Acácio dos Santos, o Faraó dos Bitcoins atualmente preso no Rio de Janeiro por suspeita de crimes financeiros, entrou com uma ação de cobrança na Justiça do Rio no valor de R$ 72,3 milhões contra a Igreja Universal do Reino de Deus. Segundo informações do O Globo, o valor é referente a doações feitas por ele à entidade religiosa na qual já atuou como pastor.
A Kraken, a segunda maior exchange dos EUA com sede em São Francisco, demitiu cerca de 1.100 funcionários, o que corresponde a 30% da força de trabalho, segundo a empresa. “Desde o início deste ano, fatores macroeconômicos e geopolíticos pesaram nos mercados financeiros. Isso resultou em volumes de negociação significativamente menores e menos registros de clientes”, escreveu Jesse Powell, fundador e ex-CEO da Kraken. Na terça-feira, a corretora cripto Bitso também anunciou demissões no Brasil e México.