Na semana passada a República Centro-Africana anunciou que tornou o bitcoin uma moeda de curso Legal no país para o pagamentos de bens e serviços.
Legal pelos anseios da adoção, mas um problema para um país que sequer sabe o que é bitcoin.
A República Centro-africana é (infelizmente) um típico país africano.
Pobre, sem recursos humanos e marcado por décadas de conflitos armados, o país é o segundo pior país em desenvolvimento no mundo, segundo as Nações Unidas.
Na semana passada o Governo do país anunciou que passaria a aceitar bitcoin como meio de pagamento.
Mas o entusiasmo do Governo diante da possibilidade de seguir os passos de El Salvador em melhorias tecnológicas e turísticas está longe ser realidade.
Isto porque a República Centro-africana é um país assolado em problemas econômicos, sociais e infraestruturais.
Por exemplo, menos de 35% da população do pequeno país possui acesso a bancos.
E para quem acha que o bitcoin está aí para sanar problemas como este, o dos desbancarizados, mal imagina que menos de 15% da população centro-africana possui energia elétrica em casa, e menos de 8% da população possui acesso à internet.
Não por menos que a população do país não sabe o que são criptoativos ou Bitcoin.
E usá-los será mais complexo, ainda, uma vez que a população não possui acessos aos meios digitais.
A Repúblic Centro-Africana está longe de ser um El Salvador.
El Salvador se mostrou de certa forma grande em sua ambição de tornar o bitcoin uma moeda Legal no país, e fez grandes investimentos para viabilizar o projeto.
Um dos principais processos foi o de propaganda de conscientização da população, além de um programa de cursos e mentorias de usabilidade.
El Salvador também investiu em uma carteira própria de criptoativos (Chivo), e espalhou caixas eletrônicos de cripto nas cidades; também adquiriu bitcoin como reserva de valor do país e passou a minerar a criptomoeda usando energia limpa de um vulcão.
Uma semana depois do anúncio da República Centro-Africana a população do país sequer sabe que agora é obrigada a aceitar bitcoin como meio de pagamento (conforme especifica a Lei), uma vez que nem sabe o que é bitcoin.
Mas o governo ao menos se preocupou com a condição do país, já que abriu uma exceção na Lei da obrigatoriedade para quem não tem acesso à internet.
Resumindo, a grande maior parte da população.
Assim, está nítido que o país precisa de todo um programa de conhecimento e incentivo para de fato transformar o bitcoin em um meio de pagamento por lá.
E antes de educar a população sobre este meio inovativo de pagamento, deverá reestruturar a própria tecnologia e infraestrutura no país para prover primeiramente o acesso da população aos meios digitais.
Jorge Siufi
