O‘Conversa com Bial’, talk show diário da Rede Globo apresentado pelo jornalista Pedro Bial, teve como tema na noite de quarta-feira (27) a Economia Digital, pautada no Bitcoin, nas criptomoedas e na tecnologia Blockchain. Para comentar sobre o novo mercado e seu funcionamento, o programa convidou o advogado e especialista em tecnologia Ronaldo Lemos e a educadora financeira Carol Souza.
Bial abriu o talk show falando de blockchain, o que ele chamou de “uma espécie de super cartório virtual”, responsável por um novo universo de negócios online, “incluindo uma vasta oferta de moedas virtuais”. Em seguida, pediu para Lemos explicar melhor sua premissa — no começo do programa, Bial havia dito que “a economia digital é mais ou menos o que a gente sempre fez, só que em ambientes digitais”.
“É isso, só que numa profundidade e velocidade ainda maior”, disse Ronaldo, explicando que esse movimento digital está desmaterializando a ideia de dinheiro, levando-a a um patamar ainda maior. Ele acrescentou:
“A chegada do Bitcoin, das moedas virtuais, de tudo o que está acontecendo hoje — inclusive vários países lançando suas moedas virtuais — está indicando que tem uma revolução em curso do ponto de vista de como é que a gente armazena e transfere valor. E isso é o que eu acho impressionante”.
Ele também explicou sobre tokenização e o funcionamento da tecnologia Blockchain, ressaltando a segurança de dados e sua imutabilidade quando inseridos na rede. Quanto ao bitcoin, Ronaldo ressaltou sua distribuição descentralizada e resumiu: “Para derrubar o bitcoin e outras moedas você teria que derrubar a internet como um todo”.
Por sua vez, Carol Souza, cofundadora do projeto UseCripto, um canal de educação financeira, tratou sobre a imaterialidade das criptomoedas, descrita antes por Bial de “um tanto abstrata”.
“A gente demorou muito tempo para compreender ela (a tecnologia das criptomoedas). Hoje a gente tem tudo na palma da nossa mão, a gente tem um rádio, uma TV, um DVD, a gente tem bibliotecas do mundo inteiro. Então a gente teve que abstrair tudo isso para conseguir chegar no celular como é hoje em dia”, explicou Carol.
Comparando o dinheiro físico com o virtual, a educadora financeira disse: “O dinheiro também é algo que antes era muito palpável — a gente pegava as notas, cartão de crédito… — e agora, com as criptomoedas, a gente conseguiu desmaterializar tudo isso, como o Ronaldo falou”.
O Bitcoin não é só isso, continuou Carol. Ele não é só dinheiro, não é só um ativo. Ele é três coisas: uma criptomoeda, uma reserva de valor e um meio de trocas — e talvez no futuro uma unidade de medida. Mas ele também é uma rede que é descentralizada e que está pelo mundo inteiro, sem fronteiras. E é um sistema de registros, disse, acrescentando:
“É como se fosse uma planilha de Excel, que cada pedacinho é distribuído pelo mundo inteiro e que todo mundo tem acesso a esses dados “ultra transparentes” e “imutáveis”.
Bial discorreu então sobre o lastro de moedas tradicionais ao longo dos tempos, como o dólar americano, por exemplo, que no passado era lastreado em ouro, mas que hoje está na base da confiança.
Questionada sobre qual o lastro do Bitcoin, Carol respondeu: “É justamente essa rede imutável. Então a gente tem certeza de que nada vai ser alterado”. Por isso, disse ela, o Bitcoin é um ativo de extrema confiança — “e confiança é valor”.
Ela também comparou o Bitcoin com o ouro, ressaltando que nele todo mundo confia porque ele é durável, escasso, divisível e verificável. “O Bitcoin consegue replicar isso de forma digital”, concluiu.
Em um certo ponto do programa, foi exibido um trecho de uma reportagem do ano de 2011 sobre o Bitcoin feita por Ronaldo Lemos. Na época, 1 BTC era negociado em cerca de US$ 7. As imagens antigas causaram risos dos participantes. Lemos então lamentou: “Sabe quantos bitcoins eu comprei (na época)? Zero! Não comprei nenhum Bial”.
“Você dá essa notícia e não compra nenhum?”, brincou Bial, ao que Lemos respondeu ainda sorrindo: “É que eu achei muito caro”.
Ao final, os convidados responderam a perguntas sobre o uso das criptomoedas para fins ilícitos, sua volatilidade de preço e a nova mania chamada de ‘criptoarte’, que são arquivos digitais transformados em tokens não fungíveis (NFT).
Ronaldo explicou que o bitcoin, por exemplo, apesar de funcionar numa rede anônima, ele é totalmente rastreável e, portanto, de uma forma ou de outra pode-se chegar ao criminoso. Mas ele alertou, sem citar nomes, para algumas criptomoedas exclusivamente focadas na privacidade, que podem ser usadas para fins ilícitos.
Sobre as oscilações de preço das criptomoedas, Carol disse que se a pessoa não estiver organizada e preparada para lidar com a volatilidade ela pode correr riscos.
Acerca das NFTs, ela disse que é uma forma do artista que não consegue se comunicar com o seu público de expor a sua arte. Ronaldo acrescentou que também é uma forma de criar escassez de uma obra no mundo digital.