A Blockstream quer se lançar no mercado de mineração, fabricando suas próprias máquinas, mirando no vácuo deixado pelos mineradores chineses
A Blockstream, empresa líder de infraestrutura de Bitcoin, anunciou um financiamento de US$ 210 milhões de Série B, elevando sua avaliação de mercado para US$ 3,2 bilhões.
Entre os planos para expansão da infraestrutura de blockchain via satélite, está também o plano de criação de uma unidade de desenvolvimento de ASIC’s para mineração de Bitcoin, em uma iniciativa 100% estadunidense. Mas há controvérsias, sobre isso, conforme destacou o analista, Colin Wu, da WuBlockchain.
O novo capital é acompanhado pela aquisição dos direitos de propriedade intelectual da Spondoolies, fabricante israelense de hardware de mineração de Bitcoin especializada em chips ASIC para máquinas de mineração. O valor da aquisição não foi divulgado.
A equipe da Spondoolies também se juntará à Blockstream para estabelecer o departamento de ASIC da empresa. Ao levantar fundos, a empresa espera expandir seus negócios de mineração e desenvolver novos produtos “Na verdade, esperamos máquinas de mineração da marca Blockstream no mercado no terceiro trimestre do próximo ano”, disse Adam Back, CEO da Blockstream.
Apesar dos planos promissores, para Colin Wu, é pouco provável que a iniciativa dê grandes resultados, devido a natureza da fabricação dessas máquinas e hegemonia da China na fabricação e acesso ao hardware mais barato, somando-se ao fato da guerra comercial entre China e EUA está impactando o mercado mundial de chips.
As instalações de mineração da Blockstream têm uma capacidade total de 300 MW e onde também foram compradas um grande número de máquinas de mineração de da Whatsminer. Em 28 de janeiro de 2021, a Blockstream anunciou que comprou máquinas de mineração Whatsminer no valor de US$ 25 milhões da MicroBT.
Spondoolies
A Spondoolies é uma empresa israelense de maquinário de mineração. Segundo pessoas familiarizadas com o assunto, a empresa já tinha uma certa força antes de 2016, mas com o lançamento de novos modelos como a Antminer S9, que varreu as mineradoras estrangeiras, a Spondoolies não teve como competir de igual para igual.
De acordo com Wu, em 4 de maio de 2016, a Spondoolies havia parado de operar e seus sete funcionários pediram para dissolver e liquidar a empresa "por causa da competição com desenvolvedores de hardware bitcoin chineses". O design do chip de terceira geração da Spondoolies ainda se mantém em 28nm, enquanto o S9 atingiu a posição de chip de 16nm. Pouco depois de sair, Guy Core, o fundador do Spondoolies, voltou-se para o mercado de moedas focadas em privacidade e fundou a Beam.
A guerra comercial Sino-americano é o grande X da questão
Mas, no curto prazo, as empresas chinesas de máquinas de mineração não enfrentarão muitos riscos de política doméstica, visto que boa parte das fazendas de mineração saíram da China. O principal risco vem da política externa, na verdade, dos Estados Unidos, chips de alto processamento foram severamente inspecionados pelos Estados Unidos e podem bloquear a tecnologia de alto processamento das empresas chinesas. Além disso, se Taiwain tiver uma guerra no futuro, a Bitmain, que depende da maior integradora de chips asiática, a TSMC, estará sob forte pressão. Diante desse cenário, pode-se inferir que esse cenário é a grande oportunidade para as empresas de chips da América do Norte, contudo, nenhuma delas tem capacidade e escala para produzir chips no volume e qualidade das empresas chinesas. Visto que os componentes mais sensíveis são produzidos na Ásia.
No entanto, do lado do design, é muito difícil para as empresas norte-americanas alcançarem. Diferente de fazendas de mineração e pools, os chips das ASIC’s têm enormes barreiras de design. A Bitmain e a Canaan investiram muito dinheiro para alcançar o nível competitivo de chips de máquina de mineração hoje, mas ambas também são fortemente dependentes da TSMC.
Embora a lógica do projeto técnico de uma máquina de mineração seja relativamente simples, a dificuldade técnica não é pequena: é necessário projetar um núcleo hash o mais eficiente possível na baixa tensão próxima ao limite físico do processador e calcular com a tensão limite. É necessário estar familiarizado com o projeto de back-end do chip e usar um grande número de projetos não convencionais para projetar chips de mineração competitivos. A dificuldade está na otimização do back-end.
A falta de talentos em chips na América do Norte não é favorável ao desenvolvimento de máquinas de mineração locais. Pelo contrário, a China está impulsionando a indústria de chips, com um fluxo constante de talentos neste segmento.
Finalmente, as empresas de chips na China continental também têm vantagens geográficas e têm uma cooperação estreita com a TSMC, Samsung e SMIC. Por conseguinte, é muito pouco provável que a Blockstream consiga construir uma cooperação com fábricas de chips e obter capacidade de produção suficiente para competir com a Bitmain, por exemplo. O valor do financiamento de US$ 210 milhões pode ser suficiente para montar uma equipe e realizar o protótipo da máquina, mas não é suficiente para fazer várias tentativas e erros. Sob essa perspectiva, o campo de máquinas de mineração ainda é uma situação relativamente sólida na China por enquanto. A Blockstream pode ser capaz de construir máquinas de mineração, mas será difícil ser competitiva.
LEANDRO FRANÇA DE MELLO