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DeFi: como os preços e os stakes evoluíram no primeiro semestre de 2021

Publicado em 12/07/2021 às 17:45

Um panorama dos principais acontecimentos para o Bitcoin, Ethereum e os diferentes nichos de DeFi.
 

Para entender como o mercado de finança descentralizada evoluiu e reagiu aos principais eventos da criptoeconomia no primeiro semestre, analisamos os dados de preço e de stake nos protocolos de DeFi em Ethereum, Binance Smart Chain e Solana.

Começamos com um panorama dos principais acontecimentos para o Bitcoin e o Ethereum nesse período. Depois, analisamos como os diferentes nichos de DeFi reagiram às tendências dessas plataformas. Por fim, apresentamos as perspectivas para o segundo semestre no setor.


Contextualizando: Ethereum e Bitcoin


O primeiro semestre de 2021 foi agitado para a criptoeconomia: no embalo de um impulso altista da segunda metade do ano anterior, o mercado assistiu à entrada de grandes instituições e às mais diversas reações dos Estados e reguladores, desde a proibição total até a adoção do Bitcoin como moeda de curso legal.

Nesse contexto, o setor DeFi realizou várias das promessas que alimentaram a captação via ICOs, em 2017. Com algumas exchanges descentralizadas superando o volume e o valor de mercado de gigantes tradicionais, como a Nasdaq, e diversas outras soluções de finança descentralizada atingindo uma grande massa de usuários, sobraram motivos para prestar atenção a esse nicho.

1º período: 1º jan - 13 abr

O mercado começou o ano com forte impulso altista puxado pelo Bitcoin, que já havia rompido sua última alta histórica, perto dos US$20 mil, em meados de dezembro. As forças compradoras ainda se intensificam a partir de 8 de fevereiro, em semana marcada pelo anúncio de que a Tesla teria investido US$1,5 bilhão em BTC.

O preço do ativo se aproximou dos US$60 mil no final de fevereiro, recuando para formar novos topos em meados de março e de abril. Este último topo, que superou os US$ 63 mil, coincidiu com o lançamento das ações da Coinbase na Nasdaq e inaugurou uma fase baixista para o preço da criptomoeda.

O Ethereum iniciou o ano superando essa tendência já muito positiva do preço do Bitcoin: movido, em parte, pelo recente florescimento do ecossistema DeFi, o preço do ETH em BTC evoluiu mais de 56% entre o início do ano e o pico de preço do Bitcoin, em 14 de abril. Frente ao dólar, a valorização passou dos 200%, rompendo a barreira dos quatro dígitos pela primeira vez desde 2018.

Teve especial destaque no período o setor de Non Fungible Tokens (NFTs). Impulsionado pela adoção explosiva em diferentes mercados, no primeiro trimestre, cresceu mais de 1.200% em volume de vendas na comparação com o último trimestre de 2020.

2º período: 14 de abril - 14 maio

A valorização do Ether ganha ainda mais força a partir de meados de abril: nesse período, se valorizou 72% frente ao dólar, rompendo a barreira dos US$4 mil, e 125% frente ao Bitcoin, que já iniciava sua trajetória de queda.

Essa apreciação foi sustentada, em parte, pela apresentação do plano de transição para o proof-of-stake em 15 de abril e pelo hard fork Berlin, no dia 23, que possibilitou novas formas de transação e menores custos para as operações da rede.

No mesmo período, a receita diária em taxas do UniSwap chegou a US$7,1 milhões, superando pela primeira vez a receita de taxas do Bitcoin.

3º período: 15 de maio - 30 de junho

No último quarto do semestre, o Ether já não resistiu mais ao movimento descendente do BTC. O período foi marcado pela alta volatilidade de preço de ambos os ativos, à medida que diferentes notícias impactam o mercado:

  • novos tuítes polêmicos de Elon Musk e o anúncio de que a Tesla não iria mais aceitar pagamentos com Bitcoin devido a preocupações com o impacto ambiental da mineração;

    evolução das medidas proibitivas, pelo governo chinês,  sobre os mineradores e outros agentes do mercado; 

    adoção do Bitcoin como moeda de curso legal em El Salvador, país que inclusive distribuirá frações da criptomoeda 

  • para toda a sua população.

A queda mais forte do ETH ocorreu entre os dias 14 e 23 de maio, beirando os 50%. Desde então, apenas uma pequena parcela dessa perda foi recuperada, em um período marcado por fortes oscilações entre os US$1.800 e os US$2.800. Contra o BTC, a desvalorização foi de 20%, sugerindo uma correção após a euforia que marcou o mês anterior (dados do CoinMarketCap.com).

Mesmo com toda a incerteza, a rede conseguiu encerrar o primeiro semestre mantendo a valorização de seu Market Cap acima dos 200%, em comparação com o fim de 2020.


DeFi no Ethereum


Para analisar o desempenho do ecossistema DeFi, nosso primeiro passo é observar a evolução de preço dos principais tokens do nicho: AAVE, MKR, UNI, SUSHI, COMP, YFI e SNX.

O gráfico acima demonstra a relação positiva que a maior parte desses tokens tem com o Ethereum: MKR e YFI, em especial, apresentam correlação superior a 0.90, enquanto apenas dois têm correlação inferior a 0.5: SUSHI (0.46) e SNX (0.06).

É interessante observar que, apesar das grandes flutuações do mercado, apenas SNX encerrou o período com baixa na capitalização, de 8.9%. UNI e MKR foram os únicos a superar a performance do ETH, com valorizações de 770.7% e 355.7%, respectivamente.

Já no que se refere às aplicações em stake, começamos observando a métrica Total Value Locked (TVL) para analisar o comportamento dos investidores frente às movimentações do mercado.

Observada a altíssima correlação (0.97) entre o TVL em dólar dos protocolos DeFi e a capitalização do Ethereum, percebemos que:

  1. Além de mais de 30% do valor total (US$) em stake ser em Ether, outros tokens com alta correlação com ETH devem responder pela maioria dos stakes;

  2. Será melhor analisar as decisões de stake pelas quantidades de tokens, como ETH, DAI e BTC, travadas nos contratos inteligentes dos protocolos.

Partimos, então, à análise da quantidade de tokens ETH em stake em função das capitalizações do Ethereum e do Bitcoin:

Até 13 de abril, a correlação de 0.87 entre a capitalização do Ethereum e os stakes de ETH em DeFi podem ser explicados pela rápida geração de riqueza na criptoeconomia com a valorização do BTC e do ETH.

Quando o preço do Bitcoin colapsa, se desacelera a injeção de nova riqueza no ecossistema e os resgates de ETH em stake passam a superar os depósitos. Nesse segundo período, a insistência altista do Ether resultou em correlação fortemente negativa, de -0.95, entre a capitalização do ETH e os stakes.

A partir de 14 de maio, com a queda do ETH, os stakes se acomodam perto dos 9 milhões de ETH. Com ambas as trajetórias descendentes, a correlação entre capitalização e stakes volta a ser muito positiva, de 0.80, o que pode ser explicado por saques para cobrir perdas nas demais aplicações em criptoativos.

Também observamos correlação forte entre os setores de DeFi, com maior tendência altista entre os protocolos de lending e exchanges descentralizadas (DEXes), que tiveram alta de 301,7% e 246,4%, respectivamente.

O setor com melhor desempenho (864,8%) foi o de pagamentos, puxado por Flexa, cujo TVL representa mais de 50% do setor (dados do DefiLlama.com). 


DeFi na Binance Smart Chain e Solana


De forma semelhante ao que havia ocorrido em outros ciclos de alta do Ether, com a maior demanda por transações, os custos de operação na rede escalaram. As taxas médias chegaram a superar os US$60 por transação nos dias 11 e 12 de maio, logo antes da derrocada do ETH.

Isso tornou outras plataformas mais atrativas para os protocolos de DeFi, em especial aquelas com baixos custos, como Binance Smart Chain (BSC) e Solana.

Com a vantagem de sua base de usuários por todo o mundo e ótima usabilidade, a BSC é a que mais se desenvolveu em adoção: a rede registrou 2,1 milhões de endereços ativos em 7 de junho, enquanto a máxima histórica do Ethereum, em 9 de maio, fora de 799,6 mil. Em transações diárias, a BSC também teve melhor desempenho, registrando 11,8 milhões contra 1,7 milhões no Ethereum no pico de meados de maio (dados do BscScan.com e do EtherScan.io, respectivamente).

Mas as redes alternativas não se esquivaram das flutuações que agitaram o Ethereum: assim como na rede hegemônica, o TVL na BSC seguiu o baque de preço nos dias 14-15 de maio e o movimento chegou à Solana dois dias mais tarde (dados do Defi Llama).

O TVL dos protocolos DeFi na BSC evoluiu mais de 400% no período (desde 21 de fevereiro, data do primeiro dado no DeFi Llama), fechando o semestre acima dos US$9,0 bilhões, mesmo tendo caído cerca de 70% desde seu ápice em meados de maio.

Na rede Solana, observamos movimento semelhante: fechando o semestre com TVL próximo aos US$ 600 milhões, o indicador evoluiu cerca de 300% desde março. No pico da rede, em meados de maio, o TVL alcançou US$1,6 bilhões.

Em TVL, as duas redes ainda seguem muito distantes dos US$80 bilhões alocados no Ethereum, é verdade. Mas a dominância das plataformas alternativas cresceu consideravelmente: o TVL da BSC passou de 3,8% do Ethereum, em 21 de fevereiro, para 16,3% em 30 de junho; entre 18 de março e o fim do semestre, o TVL da Solana evoluiu de cerca de 0,3% para 1,1% da rede hegemônica.

Esse crescimento é explicado, em parte, pela busca por alternativas após a disparada de mais de 20 vezes nas taxas de transação do Ethereum até meados de maio, mas também pelo lançamento recente de diversos projetos de DeFi nas duas plataformas. 

Entre esses projetos, destacamos os protocolos com maior TVL em cada uma: PancakeSwap, na BSC, com 29,3% do TVL total no fim do semestre e Raydium, na Solana, com 48,1% (dados do DeFi Llama).

Sendo ambos Automated Market Makers (AMMs), é compreensível que esses protocolos tenham tracionado nos momentos recentes de alta volatilidade. Mas é de se esperar que, com maior adoção em cada rede, se desenvolvam soluções como plataformas de empréstimos, stablecoins e derivativos, abrindo espaço para mais diversidade e complexidade nos ecossistemas.


Perspectivas

 

Quatro anos após a euforia dos ICOs e um ano depois do “DeFi Summer”, quando os protocolos começaram a apresentar mais do que bons ativos para especulação, o ecossistema segue se desenvolvendo em funcionalidade, usabilidade e interesse pelo público.

No que se refere às plataformas, espera-se que o progresso das tecnologias traga ainda maior potencial para o desenvolvimento das soluções de finança descentralizada.

No Ethereum, com a EIP-1559, parte do hard fork London, espera-se uma redução significativa das taxas de transação, podendo impulsionar o uso dos protocolos para cada transações cada vez menores e frequentes. Como parte da proposta, também será implementada a queima de parte das taxas de transação, o que gera maior pressão deflacionária e, provavelmente, estabilização dos preços.

Para reduzir as taxas de transação e a latência da rede, o Ethereum também conta com a adoção crescente de soluções de escalabilidade, como Polygon, adotado por protocolos de DeFi como Aave.

Mas as redes competidoras ainda têm vantagens importantes: com maior base de usuários, melhor usabilidade e eficiência técnica, no último semestre a Binance chegou a registrar novos usuários ao mesmo ritmo que tivera em 2017 e tende a continuar ganhando espaço para a BSC nos próximos meses, desde que consiga proteger seu alcance global com a política de conformidade às exigências dos reguladores.

Solana também tem motivos para esperar mais crescimento: sendo mais descentralizada do que a BSC, que está sujeita às decisões da Binance, a rede se destaca do Ethereum pela eficiência técnica, com capacidade de operar até 65 mil transações por segundo.

No fim do semestre, as notícias também parecem favorecer a Solana, com o lançamento de ações tokenizadas e a tração de projetos como Pyth, uma plataforma de dados de mercado, e Solrise, uma gestora não-custodiante de ativos.
 

CHRISTIAN GAZZETTA

 

 

Fonte: https://cointelegraph.com.br

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