Stablecoin USDT, da Tether, lidera transações e levanta suspeitas; participação das mulheres nas negociações supera 25% pela primeira vez
A Receita Federal divulgou nesta sexta-feira (3) os dados relativos a janeiro das declarações de transações com criptomoedas no Brasil. O volume ao todo de movimentações é de R$ 14,8 bilhões, o que aponta um grande aquecimento no setor. Para efeito de comparação: durante todo ano de 2022, apenas o mês de maio teve desempenho melhor, com R$ 17,2 bilhões.
No total, janeiro de 2023 teve um salto de 12% no volume total das negociações em comparação com dezembro de 2022, quando foram registrados um total de R$ 13,2 bilhões.
A comparação entre mesmos períodos fica na mesma faixa: em janeiro de 2022 o volume total foi R$ 13,8 bilhões, com o primeiro mês de 2023 representando um aumento de 7%.
O bom resultado de janeiro vem após um 2022 extremamente difícil para o setor de criptomoedas. No ano passado a Receita Federal recebeu declarações de um volume total de R$ 154,4 bilhões em transações com criptomoedas. Em 2021 esse número foi de R$ 204 bilhões, o que mostra que o mercado encolheu 24% no ano.
Tether lidera mercado brasileiro
O carro chefe das operações com criptomoedas declaradas para Receita Federal foi a stablecoin USDT, da Tether. Foram R$ 12 bilhões movimentados nessa moeda em janeiro deste ano. O Bitcoin (BTC) gerou R$ 992 milhões e o Ethereum (ETH) R$ 254 milhões.
O volume de transações comunicadas para a Receita Federal com USDT aumentou 57% entre 2021 e 2022. Em números absolutos, foram reportados R$ 63,8 bilhões em 2021, contra R$ 100,7 bilhões no ano seguinte.
Essa dominância tem gerando suspeitas no mercado. Em reportagem do Portal do Bitcoin publicada em fevereiro, o diretor de novos negócios do MB (Mercado Bitcoin), Fabrício Tota, afirma que o uso intenso do USDT é um grande ponto de interrogação do mercado cripto brasileiro atual. Se inicialmente era uma busca mais individual, focada na dolarização de poupanças, agora existe a desconfiança que isso esteja sendo usado como envios de remessas de dinheiro para o exterior.
“Já de uns bons anos para cá conseguimos enxergar nos volumes reportados para a Receita um volume muito grande, muito significativo mesmo, de USDT que não está nas exchanges locais. O que leva a crer que esse volume está nas principais mesas de OTC [sigla para over the counter, que se refere a negociação de ativos de forma direta entre as partes] e que atendem um outro tipo de demanda. Não de exposição, mas potencialmente de remessas internacionais”, afirma Tota.
Marco importante na paridade de gênero
Na questão da paridade de gêneros os dados de janeiro apresentam um marco: pela primeira vez as mulheres representaram um quarto (25,87%) do número de transações declaradas.
Porém, no valor das operações, a participação das mulheres caiu um pouco: 17,17% em janeiro de 2023, contra 17,56% em dezembro de 2022.
A quantidade de CPFs e CNPJs únicos que declararam alguma transações cripto em janeiro de 2023 foram, respectivamente, de 1.351.432 e 48.302. São números maiores que dezembro de 2022, que é um mês mais fraco em geral, mas não destoam do resto do ano passado.
Fernando Martines