O Brasil se tornou o maior mercado da América Latina e sétimo maior mercado mundial de criptomoedas: é o que mostra o relatório “2022 Global Crypto Adoption Index”, divulgado recentemente pela empresa de análise de blockchain Chainalysis.
A tendência da adoção de criptomoedas foi tão grande que o Brasil cresceu 7 posições em apenas um ano: no relatório divulgado no ano anterior, o país ocupava a décima quarta posição no ranking.
Segundo o relatório, Vietnã e Filipinas lideram o índice de adoção de criptomoedas. Apesar disso, foi na América Latina onde houve um crescimento de 40% de criptos transacionados: só entre 2021 e 2022, U$562 bilhões em criptomoedas passaram pelas carteiras virtuais de investidores da região, sendo que mais de U$140 bilhões vieram para o Brasil.
Um dos dados que mais chama atenção no relatório é o fato de que os países emergentes lideram a lista de uso de criptomoedas. Países de renda média baixa, como Ucrânia, Índia, Paquistão e Nigéria, e de renda média alta, como Brasil e Tailândia, fazem parte do top 20 elaborado pelo estudo.
Ainda segundo o relatório, a principal razão para pessoas que vivem nesses países investirem em criptomoedas são suas economias voláteis e instáveis: neles, a criptomoeda é vista como um investimento benéfico e seguro. Porém, a situação é um pouco diferente no Brasil.
Por ter uma economia relativamente mais estável do que a dos países vizinhos, os investidores buscam criptomoedas por outros motivos: aqui, as criptomoedas são vistas como maneiras de diversificar a carteira de investimentos. Por isso, o relatório identificou que o que mais chama a atenção dos brasileiros ao comprar criptomoedas é a possibilidade de criar uma reserva de valor, enviar remessas e investir por especulação no curto ou longo prazo.
O relatório também indica que investidores do varejo do Brasil estão dispostos a investir mais na compra das criptos, se expondo mais a elas do que investidores de outros países da região. Ou seja, quem investe em criptomoedas no Brasil realiza transferências muito maiores em comparação ao resto da América Latina.
Além disso, o Brasil é considerado um hub financeiro para a América Latina, ou seja, o país é a parte central da rede de crédito que corre por esses países e influencia na economia, nas instituições e mercados de seus países vizinhos.
Por essa razão, ao buscar investir em criptomoedas, os brasileiros acabam criando a tendência nos países ao seu redor — mesmo durante o chamado “inverno das criptomoedas”, período em que as cotações das criptomoedas caem significativamente e perdas enormes são sentidas por um período longo por quem tem esses ativos na carteira de investimentos.
No Brasil, assim como acontece em outros países, as criptomoedas podem ser utilizadas para resolver diferentes necessidades de seus investidores.
Nesse caso, é interessante observar a quantidade de investidores brasileiros que afirmam ter criptomoedas em sua carteira: segundo a Fundação Getúlio Vargas, 14,5% dos investidores brasileiros optam por esse tipo de investimento, um número que tende a crescer de acordo com as novas pessoas que visam obter lucros maiores e acabam interessadas nas moedas digitais.
Essa é a principal diferença na necessidade dos investidores brasileiros e da necessidade de investidores de outros países na América Latina: enquanto no Brasil o lucro é visado, em países como Venezuela e Argentina — que é o segundo país da América do Sul a mais receber moedas digitais entre 2021 e 2022, totalizando quase U$100 bilhões —, as criptos são vistas como uma maneira de se proteger e fugir dos altos índices de inflação (especialmente as moedas estáveis como as USD Stabecoins).
Sendo um dos maiores mercados de criptomoedas do mundo, o Brasil busca regularizar a situação dessas moedas no país, na tentativa de evitar que os investidores sofram com golpes e fraudes financeiras.
Por isso, o Senado aprovou, em abril, um projeto que pretende realizar a regulamentação do mercado nacional de criptomoedas, trazendo normas para que corretoras de moedas possam atuar no país.
Elas terão que atender algumas exigências, como ter um CNPJ nacional, adotar práticas de proteção de dados pessoais dos investidores e transparência nas operações. Além disso, esse projeto prevê a inclusão de uma pena por fraude financeira e lavagem de dinheiro com o uso de criptomoedas.
A regulamentação das criptomoedas — algo que está em discussão também nos Estados Unidos — vai além da ideia de proteger os investidores: ela também é uma proposta para contribuir para o aumento do interesse de novos investidores nesses ativos e tornar as criptomoedas uma opção viável e segura de investimento.
O projeto de lei, que está sob análise da Câmara dos Deputados desde abril de 2022, valerá para todos os cripto ativos, menos as NFTs, já que a intenção do Executivo é buscar a regulação desse tipo de cripto após a aprovação da lei principal.
Com o Brasil sendo um hub financeiro para a América Latina e regulamentando as criptos, aumentando a segurança e atraindo novos investidores, a tendência é que o aumento dos investimentos em criptomoedas no país influencie os países vizinhos.
Além disso, existe um interesse crescente nesses ativos impulsionado pela facilidade de acesso proporcionada pelas fintechs, carteiras digitais e pelo afastamento das instituições financeiras tradicionais. Por isso, cada vez mais empresas têm visto nessas moedas uma nova forma de pagamento, facilitando transações internacionais e o envio de remessas financeiras.
Jogos no estilo play-to-earn, que pagam seus jogadores com moedas digitais também se mostram uma tendência de cripto ativos: plataformas como o Axie Infinity, que permitem adquirir NFTs, negociá-los e vendê-los dentro do próprio jogo, estão se tornando cada vez mais populares no Brasil.
Por fim, as criptomoedas continuarão sendo uma maneira de escapar da inflação crescente em países da América do Sul, já que elas permitem o acesso mais fácil ao dólar americano, uma das principais moedas fortes do mundo.