A Binance anunciou nesta sexta-feira (24) que fechou uma parceria com a empresa de pagamentos Latam Gateway para substituir o antigo parceiro bancário, o Capitual, e que em breve as transações de depósitos e saques via real serão totalmente normalizadas. A corretora passou uma semana sem permitir que clientes brasileiros fizessem saques ou depósitos.
No comunicado divulgado para a imprensa, a Binance informa que também está conduzindo o processo de aquisição da corretora local Sim;paul, empresa autorizada pelo Banco Central e pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), anunciada em março.
A Latam Gateway fornece serviços de pagamentos no Brasil para companhias globais de diferentes setores, como e-commerce, games e agregadores de pagamento. A empresa foi criada em 2019 por executivos com mais de 15 anos de experiência em pagamentos, tendo fundado a Boa Compra, em 2004, mais tarde vendida para o PagSeguro.
A Binance passou uma semana sem acesso a um parceiro bancário no Brasil que permitisse aos clientes saques ou depósitos em reais na corretora. O rompimento do serviço, até então prestado pelo Capitual, pareceu algo súbito, mas é o acúmulo de um problema que vinha se desenrolando.
A origem do problema está em como as instituições de pagamento são reguladas pelo Banco Central (Bacen). O Capitual, embora gire um grande volume financeiro, não é uma Instituição de Pagamento (IP) homologada. Por isso, a empresa usava os serviços da Acesso Bank, que é uma empresa de pagamentos regulada pelo Bacen.
O Capitual lucrava com os saques dos clientes da Binance e a Acesso, com as taxas de PIX e TEDs e mais as operações com dinheiro que ‘dormia’ na empresa, como é comum nesse segmento.
O problema é o que o Capitual chamou, em nota à imprensa, de uma atualização solicitada pelo Bacen ao Acesso que pedia “contas individualizadas” para a empresa. A suposta notificação do regulador, porém, não foi tornada pública.
Essa distinção de contas individualizadas é importante: antes, a Binance tinha junto ao Capitual e à Acesso diversas ‘contas-mãe’, onde operavam milhares de CPFs — mas os CPFs de cada cliente não estavam registrados na Instituição de Pagamento regulada. Segundo um funcionário ligado ao Banco Central que pediu para não ter o nome revelado, o procedimento é irregular.
Na prática, caso a Binance adotasse a nova regra, todos os seus milhões de clientes no Brasil precisariam criar uma conta na Acesso e fazer um novo KYC. As corretoras Huobi e Kucoin se adaptaram à nova regra, mas a corretora de Changpeng “CZ” Zhao disse que iria procurar outro parceiro para operar os saques e depósitos em BRL. O nome ainda não foi revelado.